segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Saudades de Coimbra - Mazurca


Título: Saudades de Coimbra
Subtítulo: Mazurka para Piano
Música: Manuel de Assunção
Origem: Coimbra
Data: 1863

Composição instrumental, originariamente destinada a piano, em compasso 3/4 e tom de Fá Maior, de interessante urdidura e agradável audição.
A partitura foi impressa no ano de 1863, na Litografia da Imprensa da Universidade de Coimbra, com expressa dedicatória "Ao meu amigo Dr. Manoel Emygdio Garcia", confirmando a montante da Canção de Coimbra e da música produzida ou consumida em Coimbra uma longa prática de destinatários masculinos, cujo espectro ainda continuava a ser fortemente alimentado na época de António Menano.
Este exemplar encontra-se arquivado em anexo à colecção de solfas manuscritas do compositor Vasconcelos Delgado, na Secção de Música da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra. Ter-lhe-á sido ofertado na década de 1860, a fazermos fé na dedicatória autógrafa estampada no rosto da partitura "Ao meu amigo José Vasconcellos da Costa Delgado off.[erece] Eduardo [...] de Carvalho Viana". Infelizmente não existe informação biográfico-artística disponível sobre a família Vasconcelos Delgado, ao que parece oriunda de Arganil, ou com fortes ligações a Arganil. O nome mais evidente desta linhagem será o de José da Cunha e Costa Vasconcelos Delgado, consumidor de reportório italiano (Verdi) e autor de melodias de travejamento pró-árcade, porquanto ainda enfileiradas na troncatura das velhas modinhas.
A mazurca é uma melodia, com coreografia associada, de origem polaca, que grangeou retumbante sucesso no Portugal urbano e rural de oitocentos. Também conhecida por "valsa de dois passos", ou "moda dos dois passos", no Ribatejo, Estremadura e franjas da Beira Litoral, foi perfilhada por tunas citadinas e rurais, convívios musicais de assembleias e salões, teatros, filarmónicas, bailes folclóricos e serenatas dos escolares conimbricenses (Cf. José Alberto Sardinha, «Tradições Musicais da Estremadura», Vila Verde, Tradisom, 2000, pp. 363-364, e faixas sonoras exmplificativas das recolhas).
Em algumas tunas do Douro Litoral, a moda de dois passos era vulgarmente designada por "mazuca".
A mazurca faz parte integrante das novas modas musicais popularizadas em Portugal após o Liberalismo, caminhando quase de braço dado com a vulgarização da Valsa, da Polca, do Tango e do Fado Corrido.
Os salões, os teatros, as filarmónicas, as tunas e as orquestras ligeiras, não foram imunes às seduções da mazurca. Sucesso não inferior terá colhido na década de 1850 a "varsoviana", uma dança de salão com abertura em 4/4 e desenvolvimento em 3/4, relembrada pelo recolector César das Neves.
Pontualmente criticado pelas elites urbanas, o reportório estruturado à base de valsas, mazurcas, sambas, tangos, polcas, corridinhos, viras e contradanças, nunca saiu definitivamente de moda. Orquestra ligeira e tuna que se prezem a ele recorrem frequentemente e dele tiram garantido sucesso em bailaricos de Verão, festividades populares e animação de casamentos.
Não se deve confundir este título oitocentista com a obra "Saudades de Coimbra" (Ó Coimbra do Mondego), da autoria de Mário Faria da Fonseca, gravada em 1ª mão por Ed. de Bettencourt nos finais da década de 1920.
Transcrição: Octávio Sérgio (2008)
Recolha e texto: AMNunes

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