terça-feira, 16 de dezembro de 2008

SAMARITANA

Música: Álvaro Cabral
Letra: Álvaro Cabral

Dos amor’s do Redentor
Não reza a História Sagrada
Mas diz uma lenda encantada
Que o Bom Jesus sofreu d’amor.

Sofreu consigo e calou
Sua paixão divinal,
Assim como qualquer mortal
Que um dia d’amor palpitou.

Refrão:
Samaritana,
Plebeia de Sicar,
Alguém espreitando
Te viu Jesus beijar
De tarde quando
Foste encontrá-lo só,
Morto de sede
Junto à fonte de Jacob.

E tu, risonha, acolheste
O beijo que te encantou,
Serena, empalideceste
E Jesus Cristo corou.

Corou! por ver quanta luz
Irradiava da tua fronte,
Quando disseste: - Ó Meu Jesus,
Que bem eu fiz, Senhor, em vir à fonte.

Cantam-se as duas primeiras quadras, o refrão, as duas quadras seguintes e o refrão, sem repetir verso algum.
Esquema do acompanhamento:
1ªParte: 1º dístico: Mi M Mi, Sol7dim, Si M;
2º dístico: Fá#m, Lá M, Si M 2ªMi, Mi;
Refrão: 1º dístico: 2ªMi, Mi Sol7dim, Si M;
2º dístico: Si M, Fá#m 2ªMi, Mi;
3º dístico: 2ªMi, Mi 2ªLá, Lá M;
4º dístico: Lá, Mi M Mi M, 2ªMi, Mi;
2ª Parte: 1º e 2º dístico (1ª quadra): Mi M, 2ªFá#, Fá#m 2ªMi, Mi;
1º e 2º dístico (2ª quadra): Mi M, 2ªLá, Lá M 2ªMi, Mi;

Informação complementar:
A música e a letra são ambas de Álvaro Cabral (Vila Nova de Gaia, 22-06-1865; Porto, 22-10-1918) que, além de compositor e de ser um boémio muito espirituoso e bom conversador, foi um excelente actor e autor de revistas e de letras de fados. Tinha 53 anos e era primeiro actor e director de cena da companhia que trabalhava no Teatro Nacional de São João, do Porto, quando morreu.
A letra integral deste fado consta da edição musical da casa Valentim de Carvalho, então sita na Rua da Assunção, 37-39, em Lisboa (telefone nº 4.282), e foi impressa na Litografia Monteiro, Travessa das Pedras Negras, Nº 1, da mesma cidade. Foram feitas pelo menos três edições, as duas primeiras sem data e, a terceira, com desenho de capa datado de 1922 mas a primeira é bastante anterior, seguramente da década de 10, dos seus primeiros anos.
Este fado-canção, embora não seja propriamente um Fado de Coimbra, foi gravado em Fevereiro de 1928, no Porto, por Edmundo Bettencourt, acompanhado à guitarra por Artur Paredes e Albano de Noronha e, à viola por Mário Faria da Fonseca (disco Columbia 8121 – WP 301). O disco não contém qualquer indicação quanto às autorias da música e da letra e é omisso em relação aos instrumentistas que participaram na gravação. Na reedição deste disco (Columbia, GL 102, etiqueta verde) figura erradamente, por gralha ou ignorância, o nome de Álvaro Leal como autor do fado, erro que se generalizou e se tornou sistemático.
A gravação de Edmundo de Bettencourt encontra-se disponível em vinil (LP Fados de Coimbra – Edmundo Bettencourt, EMI 2402451, editado em 1984) e em cassete. Disponível também em compact disc:
- Heritage, Fados from Portugal, HT CD 15, da Interstate Music, editado em 1992;
- Arquivos do Fado/Tradisom, Vol. II, TRAD 005, cópia do anterior, editado em 1994;
- Col. Um Século de Fado/Ediclube, CD Nº 1/Coimbra, EMI 7243 5 20633 2 1, de 1999;
- CD O Poeta Cantor, 560 5231 0047 2 5, da Valentim de Carvalho, edição de 1999.

Edmundo Bettencourt só canta metade da letra (trata-se de um disco de 25 cm e 78 rpm) e nela introduz a interjeição “Oh” no 3º verso da 4ª quadra, alterando-o para «Quando disseste: oh meu Jesus», ao que se julga para melhorar a prosódia.
A Academia de Coimbra apropriou-se deste fado e muitos têm sido os cantores que o gravaram, tendo-se tornado num dos mais emblemáticos fados de Coimbra.
Na discografia existente (e em livros também) aparece com frequência o nome do compositor e escritor teatral Álvaro Leal, como autor da Samaritana, erro que, fruto talvez de um erro inicial, se tem transformado em erro sistemático, provavelmente devido à autoridade de muitos notáveis na matéria que o vão sucessivamente repetindo e cometendo. A letra também se encontra estropiada em diversos discos e em livros.

A outra metade da letra que não está gravada em disco mas que consta da edição musical é a seguinte:

Fitando o azul celeste
Jesus seguiu a jornada,
Após o beijo que lhe deste
Naquela hora abençoada.

E a jovem Samaritana,
De lindo rosto moreno,
Como mulher sentiu-se ufana
Por ter beijado o Nazareno

Mais tarde, na Galileia,
Seguida de fariseus,
Entravas pela Judeia
Perdida d’amor por Deus.

Dando gritos lancinantes
Suplicavas morte na cruz,
No mesmo lenho em que horas antes,
Bebendo fel, morrera o teu Jesus.
Refrão:
Samaritana,
Plebeia de Sicar, etc., etc.

Sicar é, provavelmente, a antiga Siquém (em hebraico Sichara), ou a actual aldeia de Askar, quase ao pé do Monte Ebal, próximo do Poço de Jacob.

Outros compact discs:
- CD Fados e Baladas de Coimbra – Coimbra... tem mais encanto, Vidisco, 11.80.1304, editado em1991 (canta Valdemar Vigário);
- Tempo(s) de Coimbra, disco 1, EMI 0777 7 99608 2 8, de 1992 (Luis Marinho);
- CD Tertúlia do fado de Coimbra – Coimbra... tem mais encanto, Videofono, VCD 50001, editado em 1993 (José Miguel Baptista);
- CD Relíquias – Tertúlia do Fado de Coimbra, Edisco 25, editado em 1994 (José Miguel Baptista);
- CD Valdemar Vigário, Vidisco, 11.81.1421, editado em 1995;
- CD Fados e Guitarradas de Coimbra, Movieplay, MOV. 30.332/B, editado 1996 (António Bernardino);
- CD A nossa Selecção de Fados, Baladas e Guitarradas de Coimbra, Discossete, 1172-2, editado em 1997 (Alexandre Herculano);
- CD Grupo de Fados Cantares de Coimbra – 1º. Aniversário, DCD 1024, editado em 1997 (Delfim Lemos);
- CD Coimbra – Fados, ballads & guitars, Col. das Naus, NAU CD 017, editado em 1998 (Serra Leitão);
- Col. Um Século de Fado/Ediclube, CD Nº 4/Coimbra, EMI 7243 5 20638 2 6, de 1999 (Luis Marinho);
- CD Saudades de Coimbra – Grupo Serenata de Coimbra, Videofono, 50004, editado em1999 (Sutil Roque);
- CD Victor Almeida e Silva – Coimbra enCanto e Poesia, Vidisco, 11.80.7854, editado em 2000;
- CD Frederico Vinagre – Eternos Fados de Coimbra, Metro-Som, CD101, editado em 2000;
- CD Fados de Coimbra e Tunas Académicas – Raízes e Tradições, CDsete, CD1, editado em 2001 (Alexandre Herculano).

Com a mesma música, mas uma outra letra e sob o título Conto d’Amor, António Menano também gravou este fado, em Dezembro de 1928, em Berlim, (Disco ODEON LA 187.809 - Og 1003), acompanhado ao piano por Afonso Corrêa Leite (V. na respectiva ordem alfabética desta secção).

O mesmo fado foi ainda gravado, com uma outra letra e sob o título O Trovador, por Loubet Bravo, que cantava no estilo de Edmundo Bettencourt (V. na respectiva ordem alfabética desta secção).

José Anjos de Carvalho

6 Comentários:

Blogger Mary disse...

Boa tarde,
Tenho tentado perceber quem foi o compositor Álvaro Leal mas sem sucesso...
Tem alguma informação que me possa dar sobre o mesmo, nomedamente data de nascimento/morte,...?

Agradeço desde já.
Cumprimentos,
Adília Oliveira
adiliamoliveira@gmail.com

20 de junho de 2013 às 16:59  
Blogger Octávio Sérgio disse...

Só sei dizer o que se encontra neste texto. Mas vou indagar junto do meu amigo António Nunes.
Cumprimentos.
Octávio Sérgio

20 de junho de 2013 às 21:33  
Blogger Octávio Sérgio disse...

Álvaro Augusto Cabral da Cunha Godolfim de Maia Figueiredo (1856-1918), (Vila Nova de Gaia, 22-06-1865; Porto, 22-10-1918) que, além de compositor e de ser um boémio muito espirituoso e bom conversador, foi um excelente actor e autor de revistas e de letras de fados. Tinha 53 anos e era primeiro actor e director de cena da companhia que trabalhava no Teatro Nacional de São João, do Porto, quando morreu.

António Manuel Nunes

21 de junho de 2013 às 09:10  
Blogger Octávio Sérgio disse...

Minha Senhora

O autor do fado-canção Samaritana (Dos amores do Redentor) é Álvaro Cabral (e não Álvaro Leal – são duas pessoas distintas).

Ambos os nomes figuram na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira que poderá consultar.

Trata-se daquilo a que chamamos “erros sistemáticos”. Alguém inadvertidamente engana-se, ou não sabe, e os incautos, não conhecedores do assunto, repetem o erro sucessiva e sistematicamente, invocando esse Alguém, sobretudo se essa pessoa é tida como grande autoridade na matéria.

O erro só existe na discografia de cantores de Coimbra; tal não acontece na discografia dos fadistas de Lisboa.

Para melhor elucidação do assunto vertente tomo a liberdade de conjuntamente lhe enviar a ficha em tempos elaborada sobre o fado Samaritana.

Melhores cumprimentos

José Anjos de Carvalho

24 de junho de 2013 às 22:54  
Blogger Octávio Sérgio disse...

SAMARITANA

Música: Álvaro Cabral
Letra: Álvaro Cabral

Dos amor’s do Redentor
Não reza a História Sagrada
Mas diz uma lenda encantada
Que o Bom Jesus sofreu d’amor.

Sofreu consigo e calou
Sua paixão divinal,
Assim como qualquer mortal
Que um dia d’amor palpitou.

Refrão:
Samaritana,
Plebeia de Sicar,
Alguém espreitando
Te viu Jesus beijar
De tarde quando
Foste encontrá-lo só,
Morto de sede
Junto à fonte de Jacob.

E tu, risonha, acolheste
O beijo que te encantou,
Serena, empalideceste
E Jesus Cristo corou.

Corou! por ver quanta luz
Irradiava da tua fronte,
Quando disseste: - Ó Meu Jesus,
Que bem eu fiz, Senhor, em vir à fonte.


Informação complementar:
A música e a letra são ambas de Álvaro Cabral (Vila Nova de Gaia, 22-06-1865; Porto, 22-10-1918) que, além de compositor e de ser um boémio muito espirituoso e bom conversador, foi um excelente actor e autor de revistas e de letras de fados. Tinha 53 anos e era primeiro actor e director de cena da companhia que trabalhava no Teatro Nacional de São João, do Porto, quando morreu.
A letra integral deste fado consta da edição musical da casa Valentim de Carvalho, então sita na Rua da Assunção, 37-39, em Lisboa (telefone nº 4.282), e foi impressa na Litografia Monteiro, Travessa das Pedras Negras, Nº 1, da mesma cidade. Foram feitas pelo menos três edições, as duas primeiras sem data e, a terceira, com desenho de capa datado de 1922 mas a primeira é bastante anterior, seguramente da década de 10, dos seus primeiros anos.
Este fado-canção, embora não seja propriamente um Fado de Coimbra, foi gravado em Fevereiro de 1928, no Porto, por Edmundo Bettencourt, acompanhado à guitarra por Artur Paredes e Albano de Noronha e, à viola por Mário Faria da Fonseca (disco COLUMBIA 8121 – WP 301). O disco não contém qualquer indicação quanto às autorias da música e da letra e é omisso em relação aos instrumentistas que participaram na gravação. Na reedição deste disco (COLUMBIA, GL 102, etiqueta verde) figura erradamente, por gralha ou ignorância, o nome de Álvaro Leal como autor do fado, erro que se generalizou e se tornou sistemático.
A gravação de Edmundo de Bettencourt encontra-se disponível em vinil (LP Fados de Coimbra – Edmundo Bettencourt, EMI 2402451, editado em 1984) e em cassete. Disponível também em compact disc:
- HERITAGE, Fados from Portugal, HT CD 15, da Interstate Music, editado em 1992;
- Arquivos do Fado/TRADISOM, Vol. II, TRAD 005, cópia do anterior, editado em 1994;
- Col. Um Século de Fado/EDICLUBE, CD Nº 1/Coimbra, EMI 7243 5 20633 2 1, de 1999;
- CD O Poeta Cantor, 560 5231 0047 2 5, da Valentim de Carvalho, edição de 1999.

Edmundo Bettencourt só canta metade da letra (trata-se de um disco de 25 cm e 78 rpm) e nela introduz a interjeição “Oh” no 3º verso da 4ª quadra, alterando-o para «Quando disseste: oh meu Jesus», ao que se julga para melhorar a prosódia.
A Academia de Coimbra apropriou-se deste fado e muitos têm sido os cantores que o gravaram, tendo-se tornado num dos mais emblemáticos fados de Coimbra.
Na discografia existente (e em livros também) aparece com frequência o nome do compositor e escritor teatral Álvaro Leal, como autor da SAMARITANA, erro que, fruto talvez de um erro inicial, se tem transformado em erro sistemático, provavelmente devido à autoridade de muitos notáveis na matéria que o vão sucessivamente repetindo e cometendo. A letra também se encontra estropiada em diversos discos e em livros.

A outra metade da letra que não está gravada em disco mas que consta da edição musical é a seguinte:


Fitando o azul celeste
Jesus seguiu a jornada,
Após o beijo que lhe deste
Naquela hora abençoada.

E a jovem Samaritana,
De lindo rosto moreno,
Como mulher sentiu-se ufana
Por ter beijado o Nazareno


Mais tarde, na Galileia,
Seguida de fariseus,
Entravas pela Judeia
Perdida d’amor por Deus.

Dando gritos lancinantes
Suplicavas morte na cruz,
No mesmo lenho em que horas antes,
Bebendo fel, morrera o teu Jesus.

Refrão:
Samaritana,

24 de junho de 2013 às 22:57  
Blogger APS disse...

Creio que "Sicar" está errado; correctamente é: Sicá.
Julgo que uma boa tradução da Bíblia ajudará a estabelecer o local geográfico correcto.

15 de novembro de 2016 às 12:33  

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