sábado, 31 de janeiro de 2009

José Carlos Teixeira

Escrito por Iolanda Chaves
28-Jan-2009

NOME José Carlos de Gouveia Teixeira
IDADE 55 anos
NATURALIDADE S. Cosmado, Armamar
PROFISSÃO Professor universitário
SIGNO Escorpião
PASSATEMPOS Música e leitura

José Carlos Teixeira, professor universitário e director geral da MediaPrimer, formou-se em Engenharia Mecânica, mas não chegou a exercer a actividade para a qual se diplomou na Universidade de Coimbra, em 1976, com média de 16 valores.
Pouco tempo depois de ter concluído a licenciatura, foi convidado para o Departamento de Matemática. Aceite o convite, lançou-se numa área que à época era ainda uma espécie de mundo novo para o comum dos mortais - a computação gráfica – e a partir daí alicerçou a sua vida académica e profissional.
“Vi nele seriedade, vontade de trabalhar e capacidade de realização”, diz Manuel Vaz, o professor, agora aposentado, que o chamou para assistente.
A admiração do mestre pelo pupilo começou fora dos muros da faculdade quando Manuel Vaz era ainda padre e José Carlos Teixeira um estudante que se evidenciava com a sua viola em convívios de jovens na Congregação do Espírito Santo.
O jeito do rapaz para a música levou o sacerdote a convidá-lo para tocar viola na missa dominical do Mosteiro de Celas. Estamos no início da década de 70, numa cidade em pleno rescaldo da crise académica, dividida entre os que ansiavam algo mais e os que não ousavam beliscar o poder dominante. A viola na missa foi o prenúncio de algo inovador, mas também ousado.
O acompanhamento musical, associado à forma de estar e de se dirigir aos fiéis que caracterizava um sacerdote movido por “precupações sociais”, fez da missa do Mosteiro uma das mais concorridas da paróquia.
À viola de José Carlos Teixeira juntaram-se, pouco depois, uma guitarra eléctrica e uma bateria. E assim nasceu, em plena igreja, um conjunto musical moderno, baptizado “Prólogo”. O arrojo foi tanto que não teve vida longa, ainda assim chegou a actuar em directo, da sede da Associação Cristã da Mocidade (ACM) para a emissora nacional, e organizou o 1.º Festival de Rock, no Estádio de Coimbra, com o apoio da Câmara Municipal.
Ainda que não tenha feito da música profissão, e sem se pôr em bicos de pés quanto a esta faceta da sua vida, a música tem sido um elemento fundamentalna vida do professor universitário, uma espécie de fio condutor de todo o seu percurso.
“A música tem estado em muitas das coisas boas que a vida me tem proporcionado; abriu-me portas, levou-me a viajar pelo Mundo e a conhecer gente”. Estas viagens de que fala deve-as em parte ao grupo Tertúlia do Fado de Coimbra. A primeira digressão aconteceu em 1973 e teve como destino os Açores. A segunda, um ano depois, levou-o aos Estados Unidos.
O grupo de fados, do qual é co-fundador juntamente com Eduardo Aroso, surgiu no âmbito das actividades da Tuna Académica, à qual pertenciam, já lá vão quatro décadas. A Tertúlia mantém-se activa. Sobreviveu aos tempos conturbados do antes, durante e pós-25 de Abril, chegando a participar nas campanhas culturais realizadas na época.

Mimado q.b.

Eduardo Aroso descreve José Carlos Teixeira como uma “pessoa muito organizada, rigoroso, com uma grande capacidade de trabalho e iniciativa, dotado de uma maleabilidade artística que lhe permite tocar mais do que um instrumento e ser inovador”. Já o viu tocar bandolim, guitarra, bandoloncelo e viola.
Da Tertúlia nasceu o grupo Quatro Elementos, dedicado a outras sonoridades que não o fado de Coimbra, formado por José Carlos Teixeira (baixo acústico), Eduardo Aroso (viola), Álvaro Aroso (guitarra) e José Paulo (voz).
Descobriram-lhe a queda para a música quando era criança. Foi graças a um vizinho, chamado Pedro Almeida, que, pela primeira vez, pegou num instrumento musical. A partir de um bombo, o músico e artesão topou-lhe o ritmo e incentivou-o a desenvolver essa capacidade. José Carlos assim o fez e aos oito anos foi organista da Igreja paroquial de S. Cosmado.
Ainda que importante, a música foi e continua a ser um passatempo. Os estudos estiveram sempre em primeiro lugar. Era bom aluno a todas as disciplinas e na altura de optar fez a admissão ao liceu e à escola técnica, passando nos dois exames.
“Fui uma criança mimada”, reconhece. O que para algumas pessoas é dito em voz baixa, para ele é motivo de orgulho e de eterna admiração pelos falecidos pais, Carlos Fernando Teixeira e Vitória Pombeira de Gouveia. “Tive uma infância feliz e uns pais que gostavam muito de mim”, sublinha. Da meninice recorda as brincadeiras na rua e os amigos da época, entre eles Mia Couto, na altura apenas uma criança com ascendentes em S. Cosmado, hoje um reputado escritor moçambicano.
Tem consciência de que os progenitores tudo fizeram para que ele e a irmã um dia singrassem na vida pelos próprios meios. Eram comerciantes, mas nunca viram nos filhos continuadores dos negócios da família, antes pelo contrário.
Os pais viram-no talhado para altos voos e auguraram-lhe um futuro de sucesso. Preocuparam-se, por isso, em proporcionar-lhe boas escolas. Aos 10 anos, frequenta o Colégio Almeida Garrett, uma das mais conceituadas escolas do Norte. Durante dois anos como interno, seguiu regras de estudo exigentes e descobriu o sentido do trabalho em equipa na disputa que havia entre colégios pelas melhores notas; uma espécie de ranking. “Cada um trabalhava para si, mas ao mesmo tempo trabalhava pelo brio do colégio”, sublinha.

Motivos para ser feliz

Faz o 3.º, 4.º e 5.º anos em Lamego e vive neste lugar outro dos momentos ricos do seu percurso, do ponto de vista da amizade, da formação académica e cultural. Reside numa casa de estudantes, passa a ir mais vezes a casa, desenvolve o gosto pela música, faz serenatas, participa num festival de música e faz uma incursão pelo atletismo.
O grande momento de emancipação dá-se depois do 5.º ano quando passa a viver em Coimbra. Estuda Engenharia Mecânica e torna-se assistente no Departamento de Matemática. Porque gosta de desafios, a computação gráfica pareceu-lhe suficientemente aliciante.
Numa outra oportunidade que a vida lhe proporcionou, fez o doutoramento em Darmstad, na Alemanha. Era suposto saber alemão, mas o facto de se tratar de uma área nova suplantou essa falha entretanto suprimida com o estudo e a prática, aliados a um gosto pessoal pela língua. Segundo diz, “a língua alemã tem algo a ver com a ciência; é muito regrada.”
Ao fim de três anos, regressa a Portugal para defender a tese na Sala dos Capelos, em Coimbra, mantendo um vínculo à Alemanha através do Centro de Computação Gráfica, que dirigiu. A cisão entre o parceiro alemão e os parceiros portugueses envolvidos no projecto (nomeadamente a Universidade de Coimbra, Caixa Geral de Depósitos, PT e ACIC) levou-o a seguir outro caminho, surgindo, em a MediaPrimer, uma empresa que opera na área das novas Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC).
José Carlos Teixeira, pai de duas jovens médicas, Ana Sofia e Rita Mafalda, diz que tem vivido “fases intensas e ricas” ao longo da sua vida, motivos que o levam a sentir-se feliz com o que teve, tem e faz.

Do site do quinzenário Campeão das Províncias

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