sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Livro de Horta da Silva








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O Ambientalista, A Esfinge Egípcia e A Face Oculta da Verdade

Editorial

Quem conhece o curriculum de Horta da Silva poderia erradamente pensar que a sua presente obra dissecasse meandros de intrincados problemas científicos, técnicos ou tecnológicos, insertos no âmbito da “Geologia de Engenharia”, da “Mecânica dos Solos e das Rochas” e, muito em especial, de “O Mundo das Argilas”. Mas depois de “Mara Hassine e O Silêncio de Alfredo”, Horta da Silva revela-se de novo na literatura de ficção, com um romance que tem por palco central a cidade de Coimbra - cada vez menos fechada sobre si mesmo - e, como protagonistas, as suas gentes, calcorreando outros horizontes, outros saberes e outras culturas, numa perspectiva ora colorida ora manchada pelas realidades e controvérsias dos tempos modernos, facto que leva o leitor a outras civilizações, à revelia da calátide dos descobrimentos.
Contudo, sem renegar uma postura científica, o autor desenterra num estilo romanesco, problemas graves dos nossos dias, nomeadamente do ponto de vista ambiental, e mostra-nos como os homens e mulheres da ciência e da engenharia são, acima de tudo, seres humanos que se preocupam também com a dimensão social e cultural e com o acre e doce das emoções e dos sentimentos. Surge então o sofrimento, a dor, a angústia, a complexidade dos afectos e dos comportamentos atrabiliários, quantas vezes de rosto embiocado, numa sociedade dilacerada por intrincadas decisões, que ultrapassam, amiúde, a compreensão do cidadão comum e deixam cicatrizes que o tempo nem sempre consegue disfarçar.

Resumo da Obra
Dois jovens cientistas e um ambientalista amador, dado às artes, lutam pela despoluição da rede hidrográfica do Vouga e do Águeda e pelo desenvolvimento sustentado. Um acidente ou uma tentativa de homicídio ocorrida num laboratório de uma universidade marca, de modo indelével, os acontecimentos. Uma professora de história conformista, uma engenheira cerâmica absorta pelos afazeres profissionais, um técnico de telecomunicações alcoólico e viciado no jogo, uma empregada simpática e prestável de uma cantina universitária e uma figura ubíqua, de modo de vida escurentado, vêem-se envolvidos nos acontecimentos que se precipitam a um ritmo arrebatador. Ocasionalmente, o leitor é transportado ao passado para poder compreender, nos remansos e turbulências da escoada da vida, a evolução do comportamento das personagens. O intrincado enleio é gradualmente desvendado em episódios de grande tensão até que, numa festa para a atribuição de um prémio de inovação tecnológica, o enigma é resolvido. O desfecho é inesperado, está imbuído de simbolismo e é marcado por um certo misticismo oriental. Coimbra, Londres, Jerusalém e outras cidades são palcos do romance que o autor descreve função da sua própria vivência.

Nota de Abertura

Carlos Encarnação (Presidente da Câmara Municipal de Coimbra) - O título da obra é, ao mesmo tempo, um convite e um desafio. Há um enigma a desvendar. E ao longo do texto descobrem-se as ligações e os fundamentos. É um livro de recordações romanceadas/entretecidas nas quais se incluem crenças, preocupações profissionais, amores e saudades. É como se a obra fosse o retrato de um texto intimamente escrito ao longo do tempo, como se o acto de o dar à estampa surgisse irreprimível e natural. Trata-se de um romance no qual as personagens ocupam vários palcos e são confrontadas com a sua inserção em vários cenários. E, todavia, sente-se que a matriz é Coimbra e que as suas marcas são impressas de forma constante e profunda. Mas a visão do autor não é estática. Analisa e discute os problemas e tenta desvendar os caminhos a seguir., facto que reflecte a moldura de quem escreve e revela os olhos com que vê o mundo. É com o maior gosto e o maior apreço que vejo nascer esta nova obra de Horta da Silva. Adivinho que não será a última. Coimbra vê reafirmado um novo escritor.

Prefácios

Sebastião Formosinho (Prof. Catedrático de Química da Univ. de Coimbra) - O livro é rigoroso na ciência e tecnologia que traz consigo, quer no domínio dos sintomas e consequências da intoxicação por cianeto e por metais pesados, quer no tratamento químico dos efluentes industriais. Ao construir a narrativa de traça poética à volta de três pólos ¾ «ciência e tecnologia ambiental», «desmandos e agravos » e «crenças e histórias das religiões» ¾ o autor evita cair na simplificação bipolar dum mundo maniqueísta, preservando a complexidade da vida e dos problemas humanos, mesmo que pautados por interesses económicos, por crenças mais escurentadas ou mais iluminadas ou por incapacidades organizativas agravadas pela permeabilidade a certas formas de crime. Traz-nos os problemas perenes do homem, com as suas paixões, mas acrescenta-lhes um problema novo: a questão ambiental. Um livro que merece ser lido e reflectido por todos aqueles que vivem numa sociedade que usufrui dos avanços da tecnologia, mas que carece de se debruçar também sobre importantes inconvenientes com que a tecnologia nos confronta. Como o autor refere, «os males que rejeitamos dominar, parecem não ser culpa de ninguém».Temos de estar gratos ao Horta da Silva por nos fazer reflectir em problemática tão complexa num contexto romanceado, mas com uma sabedoria humanista que nos lança num horizonte de esperança. Assim nós o procuremos de forma sustentada como «D. Dinis conseguiu planificar o desenvolvimento de Portugal sem descurar a ecologia»

Louzã Henriques (Médico Psiquiatra) - Parece-nos que o autor desenterra raízes e persegue filões que afloram e se afundam ao sabor de caprichos de que a vida é feita, denunciando marcas de Apolo e Dionísio. Trata-se de um homem de ciência – que aqui se encontra e reencontra – e porque dado às letras, às letras traz o saber, o sabor, o labor e as técnicas que lhe são próprias (coisa rara na ficção portuguesa, o que sendo apreciável e estimável, é também exemplar). Há aqui um registo preocupado de um não menos preocupado actor da saúde da terra que vai dos sete mares ao mais humilde ribeiro, passando por valores sociais e relacionais que são por igual eco da ecologia, ecoando nos humanos mundos. Há que dar razão ao autor e ao narrador mesmo que se confundam ou afastem, porque o livro é um livro sobre Coimbra, com as suas múltiplas paisagens culturais e sociais mas cada vez mais aberta ao mundo, a outras gentes e a outras culturas, ainda que tudo se passe num fundo de guitarras, violas e cantigas. Aqui, os laranjais de Coimbra se unem à velha Torre. Fica-nos o recado essencial de Alma limpa, Terra limpa, Homem limpo, Mundo limpo. É mensagem que baste.

Parecer

Mário Cláudio (Escritor galardoado com o Prémio Pessoa) - Acabei a leitura do belíssimo romance “O Ambientalista, A esfinge Egípcia e a Face Oculta da Verdade” com o comprazimento de ter atravessado um amplo texto de vida, conferido em toda a sua espessura e em todo o seu esplendor. Não sei de melhor efeito moral, nem de mais valioso magistério a operar por qualquer empresa de ficção, entendida esta à luz do código de estética literária que melhor corresponder ao respectivo autor. A narrativa de Horta da Silva possui o gosto da autenticidade, e deixa-nos com a impressão, bem pouco frequente, de um convívio com as letras dificilmente esquecível.

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