quarta-feira, 15 de abril de 2009


FADO DE DESPEDIDA
DO V ANO MÉDICO DE 1937-38
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Música: João Gonçalves Jardim (1906-1960)
Letra: João Gonçalves Jardim (1906-1960)
Origem: Coimbra
Função inicial: récita de despedida de curso médico
Data: 1938

A minha capa velhinha
Quere o destino levar
Não me roubes, meu amor…
(Ai2) Também o teu negro olhar.

Foram-se as fitas doiradas
Com elas minha ilusão
Findou minha mocidade
(Ai2) S’tá a chorar meu coração.

Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e bisa-se.
Esquema do acompanhamento:
1º dístico: lá, Sol, lá /// lá, 2ªlá, lá;
2º dístico: 2ªDó, Dó /// 2ªré, ré; (1ª vez)
2º dístico: 2ªDó, Dó, 2ªlá /// lá, Sol, lá; (2ª vez)
Final /// lá, 2ªlá, lá

Informação complementar:
Composição musical estrófica em compasso quaternário (4/4) e tom de lá menor, conforme o estilo dolente praticado na década de 1930 pelos compositores amadores activos em Coimbra.
A letra supra é a original deste fado de despedida, o qual foi cantado pelo próprio autor, João Gonçalves Jardim, quintanista de Medicina. Consta da respectiva edição musical impressa no ano de 1938 na Lito Coimbra. O Ai neumático só se canta na repetição do dístico, daí o ser seguido do índice de cardinal 2.
A peça da récita intitulava-se Gotas amargas... quantum satis e foi levada à cena no Teatro Avenida, em Coimbra, na noite de 29 de Março de 1938, em récita de gala, e repetida na semana seguinte, na noite de 4 de Abril. Um dos interessantes quadros desta peça passava-se na República dos Kágados, na pitoresca sala de jantar, com um irrigador (clister) de distribuição de vinho suspenso do tecto.
JGJ nasceu na cidade do Funchal em 28 de Junho de 1906. Terminados os estudos liceais rumou a Coimbra, tendo frequentado a Faculdade de Medicina entre 1933 e 1941. Ao longo destes anos foi membro da Tuna Académica e seu presidente, sócio do Fado Académico de Coimbra (FAC) e pertenceu ao núcleo fundante do Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra. Regressou em 1941 ao Funchal e dedicou-se à medicina. Viria falecer na sua cidade natal em 17 de Junho de 1960 após penosa doença. JGJ, mais conhecido como autor de “Estrelinha do Norte”, não chegou a gravar o tema que agora se recolhe e transcreve.
Nas gravações realizados no século XX a letra está alterada, por força da erosão oral. No mínimo, o verbo querer deixa de ser conjugado no presente do indicativo para passar para o pretérito perfeito (Quis em vez de Quer). Por vezes, é substituído “negro olhar” por “meigo olhar” e nem sempre o incipit escapa às vezes.
João Barros Madeira gravou este tema em Coimbra no dia 29 de Março de 1960, acompanhado nas guitarras por Jorge Tuna/Jorge Godinho e nas violas de cordas de nylon por José Tito/Durval Moreirinhas. A matriz viria a ser editada no EP Balada. Barros Madeira, Rapsódia EPF 5.092, ano de 1960. Eis a letra interpretada por Barros Madeira:

Eu vou partir, vou-me embora,
Tão triste por te deixar
Mas as saudades que eu levo
(Ai2) Hão-de fazer-me voltar.

Foram-se as fitas doiradas
Com elas minha ilusão
Foi-se a minha mocidade
(Ai2) Está a chorar meu coração.

Augusto Camacho gravou este fado em 1992, sob o título «Fado do 5º Ano Médico 38», acompanhado à guitarra por António Brojo e António Portugal e, à viola, por Aurélio Reis e Luis Filipe, gravação disponível em compact disc:
-CD Coimbra na voz do doutor Camacho Vieira, Discossete ADD-CD 864000, editado em 1992 (também em cassete). Augusto Camacho é dos cantores que mais metamorfoses introduz na letra original. Além da citada alteração da forma verbal, modifica três outros versos para: “Com ela teu meigo olhar”; “Queimam-se as fitas doiradas” e “Vai-se embora a mocidade”. Outros cantores há que invertem a ordem das quadras e até o incipit é adulterado para “Minha capa tão velhinha”, etc.

Transcrição: Octávio Sérgio (2009)
Texto: José Anjos de Carvalho e António M. Nunes
Espólio de José Mesquita

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