quarta-feira, 29 de outubro de 2008

100 ANOS DE FADO DE COIMBRA
CANTAR COIMBRA
Antigos Orfeonistas da Universidade de Coimbra

Quando há dias o meu cunhado José Miguel Baptista me entregou, em 1ª mão, os novos CDs dos Antigos Orfeonistas da Universidade de Coimbra(AOUC) para ouvir, foi com um misto de nostalgia e apreensão que os auscultei de rajada! Para quem, como eu, esteve directamente ligado a esta Associação durante 26 anos - desde a sua fundação em 1980 até 2006 – poderá ser difícil fazer uma crítica serena ao trabalho artístico que agora vem a lume, por sensibilidade e deformação interna.
A apresentação gráfica deste trabalho em 3 CDs, onde predomina o negro de Coimbra, convida à reflexão e a penetrar mais profundamente na realidade artística que lhe está subjacente – a Música de Coimbra na sua vertente Coral e de Fado. O Côro dos AOUC estarão agora no caminho mais certo, onde poderão tirar mais partido de vários factores natos à sua realidade humana e artística – côro de vozes masculinas, com uma sonoridade muito própria, um claro impacto visual de palco, onde se salientam os solos individuais e colectivos em Música de Coimbra !... É esta, a herança histórica que lhe veio do velho Orfeon Académico que importa reter, salientar, promover e divulgar – imagem própria, sui generis, sempre com Coimbra em pano de fundo. O caminho da ópera pura e da música clássica, será sempre mais ingrato e difícil de trilhar, atentas as limitações humanas, que a força as idades impõe e as comparações que sempre suscitam.
Ouvir este trabalho provocou-me ainda momentos de lágrimas e de saudade!…Saudade dos amigos, do palco, do convívio, das longas conversas em viagens semanais ao longo de muitos anos!… Esse, é o preço da distância, da ausência, na falta recente dos meus companhons de route! Mas… não creiam que estou parado. Em breve falaremos!
Todos nós, actuais e antigos Estudantes de Coimbra, contribuímos para a diáspora da cultura e música Coimbrã. Cada um à sua maneira e na sua medida. É um imperativo cultural, artístico e os AOUC são disso exemplo vivo. Muitos, vêm regularmente de longe para ensaios e espectáculos. Na realidade há aqui um certo mistério, uma utopia, uma mística, não compreensível para muitos outros! Quantas canseiras e noites sem dormir!...
Uma palavra especial de apreço para todo o trabalho de gravação e mistura levada a cabo pelo orfeonista Heinz Frieden em todo o trabalho. Toda a engenharia de som é hoje fundamental… mas ingrata. Verdadeiramente notável o equilíbrio conseguido entre todos os instrumentos da orquestra, guitarras, vozes e a sua calibragem. Nos fados e nos solos, as vozes estão ali mesmo, à nossa frente e ao nosso lado, com um pequeno vibrato, ponderado com peso conta e medida. A selecção dos temas feita, para a mostra global dos 100 Anos de Fado de Coimbra, é uma das muito possíveis no vasto reportório da Música de Coimbra. Pessoalmente, teria optado por gravar mais algumas guitarradas, para que o equilíbrio conseguido com o leque de fados gravados, fosse mais evidenciado.
Numa modesta opinião, ficaram-me no ouvido - talvez por não serem do meu tempo - algumas peças corais versando temas mais recentes do grande Luis Goes – Balada dos Meu Amores e Balada da Distância. Já outros trilharam estes caminhos. Também com sucesso, diga-se. A Guitarra Portuguesa como instrumento de solo numa orquestra clássica, começa a firmar-se com dignidade e sucesso.
Impõe-se uma grande promoção e divulgação desta arte bem Lusa, junto dos nossos media, “vendidos” apenas às grandes multinacionais da música estrangeira. Uma palavra final de apreço para os Directores dos AO que em boa hora se votou a este trabalho de fundo. Para quem conhece a Casa, imagino quão difícil terá sido mobilizar esta malta toda, que prima por vezes pela irreverência e o amadorismo. O resultado final é francamente positivo. Sugestão até para uma boa prenda de Natal, com o cariz da cultura e diferença Coimbrã.

Nuno Carvalho

Post Scriptum: Os II Encontros Internacionais da Guitarra Portuguesa ocorrido recentemente em Coimbra, trouxe também a lume um novo e inédito trabalho em CD, digno de referência - Cordis – Piano e Guitarra Portuguesa, respectivamente com Paulo Figueiredo e Bruno Costa. Conseguem uma simbiose perfeita entre estes dois instrumentos, num forte diálogo de musicalidade, com sonoridades nunca antes experimentadas. Variações clássicas de Artur Paredes e mais recentes de Carlos Paredes são o pano de fundo. Vale a pena ouvir, saborear… e meditar.

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