quinta-feira, 6 de março de 2008





Programa:

Apresentação

Fátima Araújo (RTP)
Nuno Teixeira (Rádio Renascença)

Mensagem de Abertura

Magnífico Reitor da Universidade de Coimbra

Momentos de homenagem

- Real República Palácio da Loucura
- Manuela Azevedo - Vocalista dos Clã

Momentos musicais

- Coro dos Antigos Orfeonistas da Universidade de Coimbra
- Orquestra Juvenil Heróis da Música
- Música Clássica: Luis Toscano, Paulo Bernardino, Pedro Devesas, Rui Vilão
- Antigas Mondeguinas
- Paulo Soares, Rui Pato
- Luiz Goes, Carlos Carranca, Octávio Sérgio, Humberto Matias
- Estudantina Universitária de Coimbra

Momentos artísticos

- Encerrado para Obras
- 'Galiza mailo Minho'
- Coros Dramáticos

terça-feira, 4 de março de 2008

Trabalho de João Farinha, Ricardo Dias e Pedro Lopes a ser promovido no Diário de Coimbra de hoje.

Carlos Paredes

1925
Nasce, a 16 de Fevereiro, em Coimbra, filho do célebre guitarrista Artur Paredes.
1929
Com apenas 4 anos, aprende a tocar guitarra portuguesa com o pai.
1934
A família Paredes muda-se para Lisboa. Carlos conclui a instrução primária no Jardim-Escola João de Deus, frequentando posteriormente o Liceu Passos Manuel e o Instituto Superior Técnico.
1957
Grava o seu primeiro disco, um EP intitulado apenas Carlos Paredes e publicado pela Alvorada (Rádio Triunfo).
1960
Música de Paredes é utilizada na curta-metragem de Cândido da Costa Pinto Rendas de Metais Preciosos.
1962
Compõe a banda sonora do filme de Paulo Rocha, Verdes Anos, cujos temas são publicados em EP pela Alvorada. No mesmo ano, música sua é incluída na curta-metragem de Pierre Kast e Jacques Doniol-Valcroze P.X.O.
1964
Compõe a banda sonora do filme de Jorge Brun do Canto, Fado Corrido.
1965
Compõe música para a curta-metragem de Manoel de Oliveira, As Pinturas do Meu Irmão Júlio.
1966
Compõe a banda sonora do filme de Paulo Rocha, Mudar de Vida, e música sua é incluída na curta-metragem de António de Macedo, Crónica do Esforço Perdido.
1967
É editado pela Valentim de Carvalho o primeiro longa-duração de Carlos Paredes, Guitarra Portuguesa, gravado nos estúdios da Valentim de Carvalho, em Paço d'Arcos, com o técnico de som Hugo Ribeiro e o acompanhamento à viola de Fernando Alvim. O álbum é acompanhado por um texto de Alam Oulman, habitual colaborador de Amália.
1968
Música de Carlos Paredes é utilizada nas curtas-metragens A Cidade, de José Fonseca e Costa, e Tráfego e Estiva, de Manuel Guimarães.
Jun. (14) – É publicado o EP Romance n.º 2, primeiro de três EP com material do LP Guitarra Portuguesa.
Jul. (5) – É editado o EP Fantasia.
Set. (6) – É publicado o EP Porto Santo.
1969
Música de Carlos Paredes é utilizada na curta-metragem de José Fonseca e Costa The Columbus Route.
Dez. – Carlos Paredes compõe um improviso à viola para a banda sonora do documentário televisivo de Augusto Cabrita Na Corrente.
1970
Música de Carlos Paredes é utilizada na curta-metragem de Augusto Cabrita, Hello Jim!
Nov. – A Valentim de Carvalho edita o álbum Meu País, assinado pela cantora Cecília de Melo, mas que conta com a participação de Carlos Paredes como produtor e director musical e acompanhante à guitarra.
1971
Compõe a música para a encenação do Grupo de Teatro de Campolide da peça de Augustin Cuzzani, O Avançado Centro Morreu ao Amanhecer, e escolhe igualmente a banda sonora para as produções do grupo até 1977.
Ago. – Carlos Paredes entra em estúdio para a gravação do seu segundo longa-duração, de novo nos Estúdios da Valentim de Carvalho, com Hugo Ribeiro.
Nov. – A Valentim de Carvalho publica o segundo LP de Paredes, Movimento Perpétuo.
Dez. (10) – É editado o single «Balada de Coimbra», com dois temas gravados nas sessões de Movimento Perpétuo, mas não incluídos no álbum.
1972
Jun. – O LP Movimento Perpétuo é dividido em 3 EP publicados com uma semana de intervalo: Movimento Perpétuo, Mudar de Vida e António Marinheiro.
1973
Abr. – Carlos Paredes está em estúdio para gravar o seu terceiro LP para a Valentim de Carvalho, mas, apesar de alguns temas ficarem acabados, as gravações são interrompidas devido à lendária relutância de Paredes em estar em estúdio e à sua insatisfação com o material gravado.
1975
Regressa brevemente a estúdio para retomar as gravações do terceiro LP, interrompidas dois anos antes, mas durante o pouco tempo que está em estúdio apenas grava de novo algum do material já terminado. O disco ficará de novo inacabado.
É publicado pela Valentim de Carvalho o LP É Preciso Um País, onde o poeta Manuel Alegre diz poemas de sua autoria acompanhados à guitarra por Carlos Paredes.
1977
Uma compilação de Carlos Paredes, intitulada Meister der Portugiesischen Gitarre, é publicada na República Democrática Alemã pela editora Amiga.
1980
Maio (7) – Estreia-se no Bobino em Paris, acompanhado por Fernando Alvim, em primeira parte de Paco Ibañez, numa actuação de três semanas.
É editado na RDA OOiro e o Trigo, um álbum que reúne algum do material inédito registado em 1973 e 1975 para o álbum inacabado. A edição é feita com o aval de Carlos Paredes, mas sem o conhecimento da Valentim de Carvalho, o que leva à ruptura do artista com a editora.
1982
O bailarino Vasco Wellenkamp coreografa música de Carlos Paredes no bailado Danças para Uma Guitarra.
1983
É publicado Concerto em Frankfurt, álbum registado ao vivo num concerto naquela cidade alemã, que inclui gravações ao vivo de bastante material que Carlos Paredes nunca editara em disco (entre o qual alguns dos temas do álbum inacabado de 1973). Trata-se do primeiro disco de Carlos Paredes para a PolyGram, editora com a qual assinou contrato depois da sua saída da Valentim de Carvalho. A edição de Concerto em Frankfurt acaba por inviabilizar a edição projectada, pela EMI-Valentim de Carvalho, de A Montanha e a Planície, um álbum que deveria disponibilizar alguns dos temas que Carlos Paredes gravara em 1973 para o disco incompleto, mas que surgem entretanto no álbum gravado ao vivo em Frankfurt. Esta edição é substituída pela reedição, em duplo-álbum, dos álbuns Guitarra Portuguesa e Movimento Perpétuo, que ocorre perto do Natal.
1986
Out. – É editado o LP Invenções Livres, um álbum de improvisações em duo entre Carlos Paredes e o pianista António Vitorino d'Almeida.
1988
Guitarra Portuguesa é editado em CD pela primeira vez.
Fev. (26) – Carlos Paredes publica o seu terceiro álbum de estúdio em nome próprio e primeiro para a PolyGram, Espelho de Sons. O álbum entra directamente para o 3.º lugar do top oficial de vendas.
Set. – Uma nova compilação de material inédito em disco de Carlos Paredes é cancelada pela EMI-Valentim de Carvalho. O álbum deveria chamar-se Salvados, título concebido pelo próprio Carlos Paredes para reflectir o facto de as gravações serem «restos» de sessões de estúdio, e também jogando com a sua condição de «sobreviventes» do incêndio do Chiado que, em Agosto, destruíra a sede da Valentim de Carvalho na Rua Nova do Almada.
Nov. – MovimentoPerpétuo é editado em CD pela primeira vez.
1989
Abr. (28) – Apresenta-se ao vivo no Festival de Música Portuguesa da Damaia.
O tema «Dança» integra a banda sonora de ambiente dos concertos da digressão mundial de Paul McCartney.
1990
É publicado Dialogues, um álbum em dueto com o contrabaixista de jazz Charlie Haden.
Out. (19) – É editado em CD Concerto em Frankfurt.
Dez. – Carlos Paredes assina pela EMI-Valentim de Carvalho, regressando à companhia onde gravara os seus momentos mais emblemáticos. Inicia pouco depois as gravações de um novo álbum de material original, que ficarão incompletas devido à doença, do foro neurológico, que acometerá o guitarrista.
1991
Abr. (30) – Carlos Paredes e a sua acompanhante e companheira, Luísa Amaro, participam como convidados especiais no concerto dos Madredeus no Coliseu de Lisboa, concerto que será gravado e publicado em duplo CD em 1992 com o título Lisboa.
1992
Mar. (20-21) – Carlos Paredes regressa aos palcos, em dois espectáculos no Teatro São Luís filmados pela RTP em alta definição. Nos espectáculos, nos quais são estreados quatro novos temas compostos para o novo álbum, Paredes é acompanhado à viola por Luísa Amaro e Fernando Alvim, e participam como convidados Manuel Paulo, Natália Casanova e Nuno Guerreiro em «Cantiga do Maio», de José Afonso, Mário Laginha em «Porto Santo», Rui Veloso em «Porto Sentido» e o flautista Paulo Curado em «Mudar de Vida». Os dois concertos são repetidos a 25 no Teatro Rivoli do Porto.
Jun. (12) – É publicado em CD o álbum Asas sobre o Mundo.
1993
Mar. – A EMI-Valentim de Carvalho publica em CD uma compilação temática reunindo gravações de Carlos Paredes, José Afonso e Luiz Goes.
Dez. (11) – É diagnosticada a Carlos Paredes uma mielopatia (hérnias na medula) que lhe prende os movimentos, impossibilitando-o de manejar a guitarra. Fica internado numa casa de saúde, em Campo de Ourique, Lisboa.
1994
Maio – Aproveitando o 20.º aniversário do 25 de Abril, a EMI-VC edita em CD o álbum de Manuel Alegre É Preciso Um País.
Nov. – É editado em CD o álbum com António Victorino d'Almeida, Invenções Livres.
1996
Dez. (10) – EMI-Valentim de Carvalho publica Na Corrente, compilação que reúne todo o material inédito em disco que Carlos Paredes deixara gravado para a Valentim de Carvalho antes da sua saída da editora em 1980, e algumas raridades: os seis temas que haviam ficado completos nas sessões de gravação interrompidas de 1973, os dois temas do single «Balada de Coimbra», publicado em 1971 e nunca incluídos em nenhum LP, e duas gravações inéditas, «O Fantoche» e «Na Corrente». O álbum atinge rapidamente o top-20 oficial de vendas de álbuns compilado pela AFP.
2004
Carlos Paredes morreu a 23 de Julho.
Do site: http://aguitarraportuguesa.no.sapo.pt/

segunda-feira, 3 de março de 2008

António José Moreira

Junto a caricatura de António J. Moreira que tive o prazer de conhecer e ouvir nas serenatas da Região de Turismo do Algarve.
A. Moreira é um daqueles casos especiais de sensibilidade para a Guitarra de Coimbra. Virtuosismo interpretativo associado a uma técnica brilhante tornam A. Moreira em mais um ícone clássico da banza estudantil.
Sempre que posso nunca me canso em ouvi-lo.

José Maria Oliveira

sábado, 1 de março de 2008

Biografia de Jorge Godinho

Jorge Godinho teria completado 70 anos no dia 5 de Janeiro último…

(a pensar nos nossos netos que não conheceram o Avô…)

António Jorge Maia Godinho Marques nasceu em Coimbra, em 5 de Janeiro de 1938, na Rua de S. Salvador. Filho de António Godinho Marques (natural de Cabanões) e de Palmira Maia de Resende (natural de Cimo do Vila), Ovar, era o mais novo de 5 irmãos: Vítor, Lúcia, Dalila e Cecília Sacramento.
Embora tivesse vivido em Coimbra, mais tarde na Rua da Matemática, até 1965, passava rápidas férias na casa de família de Cabanões.

Na foto seguinte: em Cabanões, com os irmãos Vítor e Lúcia

Curta mas plena foi a sua vida, já que uma leucemia incurável lha ceifou, a 16 de Junho de 1972, após várias deslocações a Paris que se tornaram infrutíferas.
Praticamente autodidacta, com os seus 14 a 15 anos, tem algumas lições com um barbeiro – guitarrista da alta coimbrã da Rua da Matemática, o Flávio Rodrigues. Tinha tanta vontade de aprender a tocar que, para treinar, punha-se debaixo da roupa da cama para não incomodar os colegas.
Amante da guitarra, tinha em Carlos Paredes, o Mago da Guitarra, o seu ídolo.

Em carta à irmã Lúcia, em Abril de 1954, portanto, com 16 anos, escreveu: “ eu, o Duarte e outro rapaz que toca viola já andamos a formar um grupo, em que o Duarte é o 1º guitarra e eu o 2º. Já fizemos várias serenatas e o Zeca (Zeca Afonso) também foi cantar.
Agora vamos pela primeira vez a um palco, à F.N.A.T., no dia 30 deste mês, à Festa dos Finalistas da Escola Brotero e depois no dia 8 ao Sarau dos Finalistas do Liceu”.

Frequentou o Liceu D. João III em Coimbra, onde conviveu com os maiores nomes do fado e, ainda no liceu, começou a participar em espectáculos musicais académicos, juntamente com estudantes já universitários.
Entrou para a Faculdade de Letras em 1959 e concluiu o curso de História em 1964. Em 1972 frequentava, como voluntário, o 4º Ano de Direito, como era seu desejo.

Vida académica intensa, durante os poucos anos que viveu.

Corajoso na doença, dedicado aos seus alunos e amigos, optimista na visão dos acontecimentos, espírito inteligente e culto, foi professor que se impôs pela sua competência profissional e pelas suas invulgares qualidades de carácter, de compreensão e de bondade – in “Correio do Vouga de 23/6/1972.

Em 1954, integra uma das primeiras serenatas levada a efeito no Penedo da Saudade (foto acima), com Levy Baptista, António Baptista Duarte, Paulo Morais Fonseca e Eurico Almiro Menezes e Castro. Em Outubro do mesmo ano, participa na primeira Serenata na Sé Velha.

Em 1955, aparece António Portugal com o seu grupo, talvez o mais homogéneo de quantos tem havido em Coimbra, grupo esse que Jorge Godinho integrou. A António Portugal e ao cantor Luiz Goes devemos os melhores momentos de fado e de guitarra de Coimbra. Jorge Godinho surge como um “novo” guitarrista de quem havia muito a esperar. Na interpretação como solista das “Variações em Lá menor” de J. Morais, mostra já uma forte personalidade e um apurado conhecimento da guitarra de Coimbra.

Em 1956, Jorge Godinho acompanha com António Portugal (à guitarra), Manuel Pepe e Levy Baptista (à viola) o famoso Zeca Afonso no seu primeiro EP intitulado “Fados de Coimbra”, editado pela discográfica Alvorada: fados Incerteza, Mar Largo, Aquela Moça da Aldeia e Balada.

Em 1957, grava em Madrid, para a Philips, num estúdio de excelentes condições técnico - acústicas, o célebre disco em 33 R.P.M. do Quinteto de Coimbra de que são conhecidas em Portugal pelo menos quinze edições com capa diferente.
Nesta histórica gravação de fados e guitarradas mais vendida até hoje, as guitarras de António Portugal e Jorge Godinho, as violas de Manuel Pepe e Levy Baptista acompanham o cantor Luiz Goes. O disco fora preparado com o cantor Machado Soares, que à última hora, decidiu não se deslocar a Madrid, tendo sido substituído por Luiz Goes. Neste disco, nas Variações em Ré menor de Almeida Santos, Jorge Godinho foi o solista; os acompanhamentos das outras guitarradas, Aguarela Portuguesa e Variações em Lá menor, ambas de António Portugal, estão superiormente conseguidos, valorizando muito as peças.

Neste mesmo ano (1957) integra a 1ª Primeira Serenata de Coimbra transmitida em directo pela R.T.P., junto de um olival perto dos velhos estúdios do Lumiar, com a realização de Ruy Ferrão: Manuel Pepe (viola), António Portugal e Jorge Godinho (guitarras), Levy Baptista (viola) e Luiz Goes (a cantar).
Ainda se vêem Tito (Costa Santos), Sutil Roque, David Leandro e José Niza (foto seguinte).

Também participa, em Março, numa gravação para a T.V.E. com Manuel Pepe, António Portugal, Levy Baptista e Luiz Goes (foto abaixo).

O grupo perdurou até 1958 e gravou para a empresa discográfica Alvorada um conjunto de três discos em vinil, 45 R.P.M., de Fados e Guitarradas de Coimbra, tendo acompanhado os cantores Luiz Goes, Fernando Machado Soares e Sutil Roque. O ano de 1958 revela-se muito frutuoso. Para além dos discos, Jorge Godinho participa em várias digressões: Bélgica (Expo 58), Angola com a Tuna Académica da Universidade de Coimbra e em gravações para a R.T.P.

Deslocação à Bélgica (Antuérpia e Bruxelas) Expo 58, no paquete Santa Maria.

(foto anterior) - Na R.T.P. – Jorge Godinho e António Portugal (g.), Manuel Pepe e Levy Baptista (v.). Cantam Sutil Roque, Sousa Pereira e José Henrique Dias.

Ficou famosa pela harmonia dos seus trinados e beleza arquitectónica envolvente a gravação para a T.V. americana levada a cabo no Mosteiro dos Jerónimos: Jorge Godinho e António Portugal (g.), Manuel Pepe e Levy Baptista (v.). Cantam Sutil Roque, Sousa Pereira e José Henrique Dias.

Por volta de 1959, depois de ter deixado de acompanhar António Portugal, integrou o grupo de Jorge Tuna, tendo gravado a solo, uma guitarrada de Flávio Rodrigues. Entraram também para o grupo Durval Moreirinhas e José Tito Mackay (viola).

Em 25 de Abril de 1959 festejou - se o 70º Aniversário a Tuna Académica, em que Jorge Godinho participava como violista e interveio activamente nas comemorações.

A Tuna na Via Latina

Na primeira fila desta foto (com violas), podemos ver, da esquerda para a direita, Levy Baptista, Horácio Leitão, Jorge Tuna, Tito MacKay, em sexto, Jorge Godinho seguido de David Leandro.
Na fila a seguir, com guitarra, António Portugal, em terceiro e quarto lugares, respectivamente, Eduardo Melo Lopes de Almeida com bandolins. À direita, José Neves (?) com o acordeão; de pé e de óculos escuros (sem instrumento) Mário Sacadura seguido pelo Alcides com o violino, atrás e à esquerda, José Niza.
Podemos ainda ver à direita o Senhor Chico, figura carismática da Academia de Coimbra.

Jorge Godinho toca tambor

Prato comemorativo dos 70 anos da Tuna

Vivia-se em Coimbra uma das fases mais ricas da canção feita pelos estudantes, dominada pelas vozes de Luiz Goes, Fernando Machado Soares e José Afonso e pelas guitarras de António Brojo, António Portugal, Jorge Tuna, Jorge Godinho, e Eduardo e Ernesto Melo.

Por volta de 1960, Jorge Godinho grava, com o conjunto de Jorge Tuna, para a Rapsódia, o disco EP, em vinil de 45 R.P.M. “Sé Velha, Guitarras de Coimbra”: Jorge Tuna e Jorge Godinho (g.), José Tito Mackay e Durval Moreirinhas (v.), tendo interpretado Jorge Godinho as Variações em Ré Menor de Flávio Rodrigues, como solista.

Capa do disco.

Nas férias da Páscoa de 1960, acompanha, numa viagem memorável aos Açores, no velhinho paquete Lima, o Orfeon Académico de Coimbra, integrado no Grupo de Fados, cujos instrumentistas eram, além de Jorge Godinho, António Nazareth (guitarra) e Durval Moreirinhas (viola).

Um grupo de estudantes nas Furnas

Numa 2ª digressão por África, visita com o Grupo de Fados, Angola e Moçambique, em Agosto de 60, integrado no Orfeon Académico.

JORNAL
“Capas Negras” conquistaram Luanda, segundo nos testemunha o jornal Notícia!, Semanário Ilustrado de Luanda, de 27 de Agosto.

O grupo de Fados era constituído por Jorge Godinho e José Niza (guitarra), Levy Baptista e Álvaro Bandeira (viola); Barros Madeira, José Afonso dos Santos, José A. Ferreira de Campos, António José de Sousa Pereira e Lacerda e Megre eram os cantores.
Ainda no mesmo ano, voltou a gravar, desta vez, no disco Coimbra Orfeon of Portugal, editado nos Estados Unidos da América para a etiqueta Monitor e que serviu de apresentação e promoção da digressão do Orfeon a esse país, em 1962.
Jorge Godinho e Jorge Tuna (guitarras) e José Niza e Durval Moreirinhas (violas) acompanharam Sousa Pereira, Barros Madeira e Sutil Roque.
O LP em referência, para além dos fados e de algumas peças do Orfeon, incluiu também as duas primeiras baladas de José Afonso: “Minha Mãe” e “Balada Aleixo”, acompanhadas à viola por José Niza e Durval Moreirinhas.

Na contra-capa do disco editado nos E.U.A.

Durante 1961, continuam as diversas serenatas (incluindo sempre a Monumental da Queima das Fitas), as gravações, os espectáculos ao vivo, as digressões, as participações regulares no Serenatas de Coimbra do Emissor Regional, de que não tenho muita documentação.
Em Abril, integrou uma viagem a Madrid com o Orfeão Académico.

Vale dos Caídos – 1961 – J. Godinho e José Niza

No ano lectivo de 60-61, fez parte da Direcção da Tuna Académica.

O ano de 1962 foi dos mais frutuosos. Todas as actividades artísticas académicas costumadas continuam, mas, em Maio, destaca-se a viagem ao Brasil (Rio de Janeiro, Copacabana, etc.), com recepções na Embaixada Portuguesa no Rio e vários espectáculos.

Cantaram Sutil Roque e Armando Marta. Nas violas, Durval Moreirinhas e Humberto Matias; nas guitarras, Jorge Tuna e Jorge Godinho.

Na Embaixada de Portugal no Rio de Janeiro

Em Outubro de 1962, realiza-se uma das digressões do Grupo de Fados mais famosa, aos E.U.A., integrado no Orfeon, que se prolongou por 50 dias, durante os quais se realizaram 37 espectáculos. É de destacar a sessão no Lincoln Center de Nova Iorque, uma das maiores casas de espectáculos do mundo, em que Adriano Correia de Oliveira brilhou, acompanhado por Jorge Tuna, Jorge Godinho (guitarras) e Durval Moreirinhas (viola). O Diário da Manhã, de 11/10/62, entre outros, noticia a partida do Orfeon, com grande destaque.

Grupo de fados em Washington: da esquerda para a direita, Machado Soares, Durval Moreirinhas, Lacerda e Megre, Sousa Pereira, Victor Nunes, Jorge Tuna, Jorge Godinho e Adriano Correia de Oliveira (foto anterior).

Na foto anterior: Adriano Correia de Oliveira, Jorge Godinho e Durval Morerinhas no Central Park de Nova York, em Novembro de 1962

No ano seguinte, 1963, Jorge Godinho participou noutra digressão, desta vez à Suécia, à Gala dos Reais Clubes Escandinavos, que se realizou em Estocolmo, no Grand Hotel. Para além de José Afonso e Adriano Correia de Oliveira, participou a fadista lisboeta e castiça Esmeralda Amoedo, tendo os acompanhamentos sido assegurados, para além de Jorge Godinho, por José Niza (g.) e Durval Moreirinhas (v.).
Tiveram ainda lugar participações nas televisões suíça, Zurique, e alemã, Frankfurt.

Na foto anterior: Adriano Correia de Oliveira, Durval Moreirinhas, Zeca Afonso, José Niza, Gouveia e Melo, Jorge Godinho em Upsala, na Suécia, 1963.

Nesse mesmo ano, com José Niza (v.), Jorge Godinho (g.) gravou em Paris, para a Polydor, um LP cantado por Germano Rocha, um português emigrado, que nos caveaux da Rive Gauche, ganhava a sua vida cantando baladas e fados de Coimbra.
A gravação deste disco mereceu destaque na Revista Paris – Match, que noticiou a celeridade da gravação, informando que dois estudantes de Coimbra, em férias da Páscoa, tinham ido a Paris gravar o LP mais rápido que se tinha registado nos estúdios da Polydor.
Entretanto, após o seu regresso, conhecemo-nos numa aula de História da Expansão Portuguesa comum a Filologia Românica e História e passámos a ser vizinhos de anfiteatro. A Queima das Fitas aproximava-se … começámos a namorar. Vivemos intensamente as festas. O Jorge fazia, então, parte da Comissão Central da Queima, em representação da Faculdade de Letras. Américo Louro (Ciências), Rui de Brito (Medicina), João Osório (Direito) e Rogério Camões (Farmácia) completavam o grupo.

Comissão Central da Queima das Fitas, 1963

Rui de Brito, José Niza, Ezequiel e o Jorge, 1963

Lembro-me que no ano seguinte, 1964, o grupo voltou a deslocar-se a Paris, de novo para acompanhar Germano Rocha num novo LP para a Barclay, mas desta vez, Jorge Godinho e Ernesto de Melo à guitarra e José Niza e Durval Moreirinhas à viola.
Não foi ano de grandes saídas académicas. A Tuna fez uma digressão pelo Algarve, dando também um espectáculo em Setúbal. Eduardo Melo e Jorge Godinho (g.) e Frias Gonçalves (v.) acompanharam o cantor José Miguel Baptista. (Foto abaixo)

Não deixou, porém, de integrar como finalista que era, a Serenata Monumental da Queima das Fitas, na Sé Velha, em que havia participado ininterruptamente, pelo menos, durante dez anos.

Manuel Pepe (v.), António Portugal (g.), Jorge Godinho (g.), Levy Baptista, Machado Soares (cantor), 1957

Nem palmas, nem ruídos. Apenas o tanger dorido das guitarras cortava a beleza daquelas noites sem par…
Apagavam-se lentamente os projectores, que dão à Sé um tom de mistério e de beleza… Apenas uma luz ténue e pálida ilumina um cenário cujo fundo é uma amálgama de capas negras e pedras seculares da velha Sé…

O Jorge concluiu o curso a 25 de Julho de 1964.

A Família e eu
Passou a ser professor no Liceu Nacional da Figueira da Foz, actual Escola Secundária Dr. Joaquim de Carvalho, onde criou entre 1964 e 67 um grupo de fados, de que não conheci os restantes elementos: além dele à guitarra, o Reitor do Liceu, Dr. João Rigueira, que por coincidência, também era de Ílhavo, acompanhava à viola. (Foto a seguir)

Acabei o curso no ano seguinte e casámo-nos na Capela da Vista-Alegre, Ílhavo, a 11 de Setembro de 1965. A escolha casual da data estaria carregada de fatalismo?
Fomos Pais do primeiro filho, o Pedro, a 1 de Julho de 1966 e do segundo, o Miguel, a 12 de Fevereiro de 1971, crianças que eram o enlevo do Jorge. Não
as pôde ver crescer nem acompanhar, com os dotes de educador que possuía.
Em Agosto do mesmo ano, foi-lhe detectada a fatídica doença e em Paris soube que a doença era irreversível. Não duraria mais que uns escassos meses.
Estóico na doença, pediu-me que fizesse do Pedro e do Miguel uns Homens. Estou segura de que cumpri o seu desejo.
O seu desaparecimento aos 34 anos constituiu também uma grande perda para a guitarra de Coimbra, em que Jorge Godinho se revelara um dos mais talentosos intérpretes do seu tempo.

Continuou e continuaria a tocar e a amar a guitarra…

Ana Maria Lopes